Epopéia de Gilgamesh

Qual é a vida boa para os mortais? Vale a pena viver mesmo sabendo que vamos morrer? Para os gregos ética sempre foi uma questão de felicidade, de vida boa. Na hora da confusão da vida o último dos valores é a vida boa, a eudaimonia (do grego antigo: εὐδαιμονία) é um termo grego que literalmente significa 'o estado de ser habitado por um bom daemon, um bom gênio'.
A Ética e a vida boa se separaram ao longo do tempo e hoje não tem nada a ver uma com a outra.
Moral nos tempos modernos: Respeitar o outros + Ser um cara gente fina = Nada tem a ver com ser feliz. Os maiores enganados são os mais legais, os gente fina. Ser legal nunca ajudou ninguém a ser feliz, nunca ajudou ninguém a não perder os entes queridos, a não adoecer, a não morrer.
Domingo à tarde é terrível pra quem é canalha ou pra quem é gente fina, não tem nada a ver. Angústia: não saber o que fazer com a vida. As pessoas que tem caráter e formação moral costumam ser sempre muito mais angustiadas do que as pessoas moralmente flexíveis, porque as ultimas tem muito mais alternativa de fugir da tristeza. 

Epopéia de Gilgamesh

É uma obra dividida em quatro partes:
1. Apresentação de Gilgamesh
2. As aventuras de Gilgamesh e Enkidu
3. A morte de Enkidu
4. O rei que não queria morrer
A história se passa na mesopotâmia, (entre os rios Tibre e Eufrades). O subtítulo da obra é: o Grande Rei que Não Queria Morrer.
Gilgamesh era um tirano clássico com mais de três metros de altura, ele não era aplaudido nem querido sempre, mas garantia o monopólio pela sua força, seu físico, pela sua capacidade de sub-julgar os demais cidadãos; ele era extremamente poligâmico. Gilgamesh, Maquiavel e o Lula, todos querem manter o poder, só que tem jeitos e jeitos para isso, para Maquiavel: podendo ser aplaudido, seduzir, podendo convencer convença, faça o que puder... Se não der, sente a mão. Para Gilgamesh não, ele vai direto sentando a mão, totalmente antimaquiavel. Os cidadãos de Uruk rezaram, ou eram amante dele ou eram escravos. Os Deuses mesopotâmicos intervém porque consideram que Gilgamesh extrapola, peca por considerar-se mais do que é, peca por não harmonizar-se com o todo, isso recebe o nome em grego de hybris.
Deuses resolvem mandar para Uruk uma figura pra reequilibrar a parada, mandaram uma figura com o mesmo tamanho de Gilgamesh, é o alterego de Gilgamesh, o Enkidu, ele é um bicho com jeito de homem.
Enkidu antes de aparecer na cidade de Uruk ele vai ser civilizado e vai virar homem. O que é o homem? Aristóteles definiu o homem como animal político, socializado, civilizado, que convive com os outros de forma civilizada e política. Essa definição já estava presente no relato de Gilgamesh, Enkidu nasceu bicho e vai virar homem porque vai ser civilizado.
Enkidu vai virar gente porque vai ser civilizado por uma prostituta, o relato diz que a prostituta deu para Enkidu tudo que poderia dar de melhor na civilização da época. Ela ofereceu pra Enkidu sua instrução, deu a ele uma linguagem, maneiras de se portar. Deu a ele o seu corpo.
Agora ele precisava ir lá e lutar com o Gilgamesh, eles tem exatamente a mesma força eles foram se aniquilando um ao outro e caíram juntos, não poderia ter vencedor, eles são iguais. A hora que eles se dão conta disso eles viram amigos, passaram a se gostar. Enkidu s2 Gilgamesh.
A prostituta ficou abandonada, Gilgamesh formaram uma dupla.
Maquiavel provavelmente leu, porque ele disse: forças equivalentes quando não encontram meios de uma superar a outra tendem a se alinhar.
Maquiavel: Todo mundo exercerá o seu poder no limite máximo que puder exercer.
A hora que Gilgamesh e Enkidu se juntaram eles decidiram estender o seu poder.
Apareceu o monstro Humbaba, o monstro era o foda e eles mataram o monstro. Como o exército americano voltando do triunfo, voltaram em glória e triunfo, comendo e matando todo mundo.
Os Deuses definitivamente não gostaram... A Deusa do Amor, a Afrodite do Pedaço, chamada Ishtar, queria dar para Gilgamesh. Ele era chegado no Enkidu, não quis. 
A Deusa do amor foi falar com o pai dela, uma espécie de Zeus do pedaço, o Anu. Ela queria se vingar e Anu disse que não podia fazer nada. Ai a Deusa do Amor chantageou o pai, disse que se ele não mandasse o touro (touro matava 400 pessoas de uma vez) ela iria soltar os mortos.
Ressuscitar morto é uma zona sem limite, quando mortal não morre o ciclo não se cumpre. 
Anu arregou e decidiu mandar o touro. O casal Gilgamesh e Enkidu matou o touro com uma espada no cangote. 
Deuses não gostaram, decidiram matar Enkidu.
Enkidu sonha que vai morrer, o sonho é uma ligação dos Deuses com os mortais.

Paradoxo: Finitude x Amor
Gilgamesh não se conforma, como é possível que esse que eu tanto amo morra. 
Os Estóicos dizem: não ame ninguém nem nada porque vai morrer, vai destruir, você vai sofrer. Não tenho cachorro, mulher nem amigo porque quando morre eu sofro. Ame só o que é eterno, a ordem universal: os Deuses e o cosmos.
Pensamento cristão: Ame a vontade, é agostinho com a mãe, a mãe morreu e Agostinho organizou ou pagode pela certeza de que daqui a pouco estaremos todos juntos, ou seja, não se preocupe porque nós também estamos a caminho.

Gilgamesh percebeu a sua finitude e não queria morrer, entramos na última parte.
Gilgamesh ouviu falar em algum lugar que alguém tinha recebido dos Deuses a imortalidade, o Uta-na-pistim.
Uta-na-pistim ganhou a imortalidade porque os Deuses estavam de saco cheio dos homens e inundaram a terra, chamaram Uta-na-pistim e mandaram ele colocar no navio um casal de cada um animais. O Noé da Bíblia é o Uta-na-pistim da Mesopotâmia.
O Deus da Mesopotâmia é mais generoso que o da Bíblia e deu ao Uta-na-pistim a imortalidade.
Gilgamesh.
Gilgamesh encontrou o Uta-na-pistim, ele disse que não vai dar pra passar a imortalidade, que não dependia dele. Gilgamesh ficou muito triste, a mulher do Uta-na-pistim ficou com pena dele. No mito de Gilgamesh a morte é ruim, é uma desgraça, existe pena de quem vai morrer.

A morte tem que ser ruim se a vida foi boa, se a morte não é nada é porque a vida não foi lá essas coisas.

A mulher de Uta-na-pistim deu um cházinho pra prolongar a vida de Gilgamesh, é de uma atualidade irritante. Gilgamesh ganhou um prêmio de consolação.

Só, que na hora que está voltando, tem as ervas roubadas por uma serpente. Não é por acaso que a serpente é simbolo da medicina, porque não morre, porque roubou as ervas de Gilgamesh.

A Epopéia simplesmente acaba assim. 

Mostra a necessidade de reflexão de espiritualidade laica, a religiosa Gilgamesh tentou com Uta-na-pistim, quando a religiosa não resolve quem sabe a necessidade de pensar sobre a vida sem os Deuses? Abre-se as portas para o pensamento filosófico.

Mito de Gilgamesh apresenta reflexão de espiritualidade laica, quando Enkidu sabe que vai morrer ele xinga os Deuses, a prostituta vai visitá-lo e ele xinga ela... A raiva dele passa, um Deus intervém, o Samas, diz que ele é um babaca. É claro que ele vai morrer, mas a vida dele foi boa pra caralho. Enkidu volta atrás e ai temos o momento maior de espiritualidade laica. Temos duas lições fundamentais: não é porque você vai morrer que a vida não presta, é justamente porque a vida acaba que ela é rara e porque ela é rara que ela tem valor e vale a pena ser cultivada e bem vivida.
São dois caminhos para vida boa: O amor e a civilização. Será que é mesmo o amor que faz a vida valer a pena, e a civilização é condição de uma vida boa?

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